Gosto de histórias assim, como a do Chico! Saiu do Piauí para Brasília ainda criança, estudou só até o ensino médio, trabalhou nas ruas vendendo jornais descobrindo, assim, o seu amor pela leitura. De ex-jornaleiro, então, passou a vender livros na Universidade de Brasília. A Livraria do Chico é famosa e muito querida tanto pelos alunos quanto pelos professores da UNB porque o Chico não se limita a ser um simples vendedor, ele conhece cada livro que tem e, por isso, sabe dar a indicação correta a todos que nele buscam ajuda. Abaixo, o artigo completo retirado do site da globo.com.
Grande Chico! 👏
Eliana
“Ele saiu do Piauí para Brasília em pau de arara. Trabalhou desde criança como vendedor de jornais. Foi lendo as letrinhas miúdas todos os dias que encontrou sua paixão: a literatura. Hoje, o Chico é dono de uma das livrarias mais famosas na cidade. E há 38 anos, conquista fãs na Universidade de Brasília por sua sabedoria e pela vontade de compartilhar conhecimento.
Para a filha, ele vive no mundo da lua. ‘Ele sonha muito alto. A mente dele vai além do que ele pode’, observa a estudante Bruna Carvalho.
Para a mulher, uma ideia fixa o governa. ‘Ele dorme pensando em livros, acorda pensando em livros, almoça pensando em livros e sonha com os livros’, conta a dona de casa Cláudia Maria Carvalho.
Para os alunos da Universidade de Brasília, é um ídolo. Para os professores, uma celebridade.
Afinal, quem é? O que quer Francisco Joaquim de Carvalho?
‘Conceituar o mundo através da leitura, do trabalho com os livros, sabe?’, responde o livreiro. Um menino pobre que veio do Piauí. Só a viagem para Brasília já daria um livro. ‘Saíram meus oito irmãos. A gente veio de pau de arara’. Trabalhou desde garoto nas ruas da capital. ‘Comecei a vender jornal”. Todo mundo estranhava. Um jornaleiro que lia o jornal inteiro antes de entregá-lo? ‘Eu comecei a entender um pouco do mundo através dos jornais e das revistas’, diz. Como se o mundo dos jornais fosse um estágio para o universo dos livros. ‘Acho que já tinha uma proposição na vida de ser um livreiro, de trabalhar com livro. Pra mim, acho que é uma predestinação’.
E parece até que já estava escrito: o ex-jornaleiro foi vender livros na universidade. O Chico só conseguiu concluir o ensino médio. Mas poucos têm tanto tempo de universidade quanto ele. Em 38 anos de UNB, o livreiro que nunca fez faculdade ajudou gerações e gerações de universitários que encontraram um atalho para o conhecimento na Livraria do Chico.
Eis o território do Chico Livreiro. ‘Tem a sua tradição; o seu espaço aqui que é praticamente sagrado’, diz o estudante Luís Cristóvão Lima.
Esgotado? Desconhecido? Impossível? O Chico acha.
‘A gente fala o nome do livro e ele conhece até a editora’, conta a estudante Priscila de Luna.
‘Ele é do tipo do livreiro antigo, que conhece todas as edições, sabe exatamente localizar o livro que você precisa’, elogia o professor da UNB Gustavo de Castro.
Não se engane com a aparência de caos. ‘O Chiquinho conhece isso aqui na palma da mão. E não é de agora. Olha, eu estudei na UNB em 1985!’, lembra a artista plástica Maria de Lourdes da Costa e Silva.
Um hábito dos tempos de jornaleiro: sair catando leitores pelo caminho. Perambular pelos corredores da UNB deu a Chico a grande oportunidade que ele esperava: conviver com escritores e intelectuais. ‘Todos os pensadores que iam na universidade, eu pegava autógrafo. Eu tenho do Moacyr Scliar, do Ariano Suassuana, do carteiro e o poeta: Antonio Skármeta’. De Cora Coralina, famosa escritora goiana, a dedicatória é quase um poema. ‘Seja você sempre robusto e de boa sombra, como o Carvalho do seu nome. Cora Coralina’. A maior emoção da vida: dois dedos de prosa com o Nobel de literatura José Saramago num corredor da UNB. ‘Conversou bem pouquinho, mas já foi o bastante pra mim, pra ficar feliz para o resto da vida, sabe?’
E uma predileção confessa: ‘Eu adoro Paulo Leminski!’.
Gostar de ler dá a Chico a segurança da indicação correta. Seja para quem gosta de biografia, seja para quem gosta de filosofia. A fórmula? O segredo? ‘É um dom!’.
Além, obviamente, da imensa popularidade de Chico Livreiro. Ele é mais conhecido do que o reitor na UNB? ‘Até porque o reitor passa, e ele permanece’, responde o professor da UNB Antônico Miranda. Porque o que fica é o desejo de compartilhar com os outros a força da criação humana.”
*********************************************************************
“Você só existe na vida através da leitura, do conhecimento, da saúde e do amor ao próximo. Acho que até o último segundo da minha existência eu vou trabalhar com livro, prestar serviço para as pessoas e para a humanidade.”
(Chico, o livreiro)
**********************************************************************